XILOGravura


Foi em 1999 que Maércio teve seu primeiro contato com a Xilogravura, nesta ocasião, ele talhou esse trabalho usando uma faca e uma tábua que ganhou do poeta e gráfico, Luciano Carneiro. Esta Xilogravura representando a fachada do Seminário São José, compunha seu livreto de Cordel “Breve histórico da fundação do Seminário São José do Crato”. “Apesar de muito grosseiro, o fato de eu “ter aprendido” a fazer xilogravura facilitava o trabalho na gráfica, pois não eram tão fáceis as encomendas com os gravadores de Juazeiro do Norte”, lembra o artista. Na época o único xilógrafo residente em Crato era Walderêdo Gonçalves, mas já não estava trabalhando, devido à idade avançada e os problemas na visão. Um outro xilógrafo chamado Geraldo Maranhão também fazia gravuras para a Academia, mas morava em Santana do Cariri. Então, Maércio, passou a receber encomendas da gráfica “Coisas do meu sertão” pertencente à Academia dos Cordelistas do Crato, o qual prestou serviço como xilógrafo de capa por um ano e meio.


O aprendizado se deu ao longo de anos. No princípio o trabalho de Maércio era feito as pressas, pois além de xilógrafo ele ensinava Filosofia no Seminário São José além de estudar letras na Universidade Regional do cariri – URCA, restando pouco tempo para se dedicar a xilogravura. Admitindo que o tempo fosse minguado, em 2000, ele começou a trabalhar junto com Carlos Henrique que segundo o artista: “é muito habilidoso na escultura e no trato com as madeiras em geral. Dei-lhe apenas algumas dicas, entre as quais a de que a tábua deveria ser uma espécie de carimbo”. Seu trabalho foi logo aceito com entusiasmo. Foi aí que o artista descobriu que uma pequena xilogravura de capa de cordel poderia tomar outros rumos mais detalhados.


Carlos Henrique - CH desenvolveu ferramentas de corte mais apropriadas, deu melhor atenção ao lixamento da madeira, enfatizou o corte preciso e nítido, e isso tudo resultava numa xilogravura que embelezava as capas de cordel. “Então, durante muitos sábados, o dia todo, em sua simplória oficina, tomei valiosas lições de CH, e sob a orientação dele comecei a preparar matrizes de tamanho grande. Mas para atingir o que eu tinha em mente, eu tive de me afastar em alguns pontos dos ensinamentos de CH. Mas sem esse tempo de aprendizado junto a esse artista, meu trabalho não seria possível”, conta Maércio. Durante um tempo o artista chegou a perder o interesse na xilogravura e somente em 2005, através de algumas leituras, tomou consciência da grandeza dessa arte, conhecendo os trabalhos de Alberto Dürer e as gravuras feitas sobre os desenhos de Gustave Doré. Assim ele decidiu se entregar ao aperfeiçoamento dessa técnica.


Para Maércio tudo começou com o cordel. Antes de entrar na arte da xilogravura, vários artistas gravadores arriscam escrever cordéis. Com sucesso, diga-se de passagem. Com o artista Maércio Lopes isso não poderia ser diferente. De 99 para cá, publicou dez cordéis e como membro da Academia dos Cordelistas do Crato assume essa literatura como parte da missão cultural que desenvolve. “Tanto assim, que uma das minhas gravuras, a que eu acho mais significativa, tem por tema a leitura e o cordel”.

O artista participa de coletivas desde 2007. A primeira foi a coletiva “Incisão”, do Centro Cultural Banco do Nordeste - CCBNB, em Juazeiro do Norte e a Mostra “O Cariri é aqui”, em Fortaleza, no mesmo ano. Maércio também Expôs com Carlos Henrique e Guto Bitu, no Maria Café, em Crato e na Mostra Desusa de Artes Visuais, da Universidade Regional do Cariri - URCA, trabalho este intitulado “Ao Senhor das Nações”, que inclusive está no cartaz e panfleto do evento.

Somente este ano, Maércio conquistou seu reconhecido destaque em duas exposições individuais. A primeira, nos meses de maio e junho, no Espaço Cultural Coletivo Malungo que reuniu dez peças numa exposição “Cenas de um Cariri”. E a segunda chamada “Impressão de Mundos” que reúne 35 xilogravuras e estão em exposição durante este mês de julho na Galeria do SESC-Crato. Esta mostra faz parte do Projeto Moldura Itinerante desenvolvido pelo Instituto Ecológico e Cultural Martins Filho – IEC, vinculado a Pró-Reitoria de Extensão da URCA e consiste no empréstimo de molduras para expor obras de artes visuais.



O que caracteriza a gravura do artista é evidente: o cuidado dado aos detalhes. O artista procura convencer o expectador de que o detalhe é também essencial. Com isso, Maércio deseja causar o deslumbramento, a interrogação, o espanto diante de uma coisa nova e considera a sua arte apologética. Maércio preocupa-se em demonstrar que a gravura em madeira pode ir por caminhos surpreendentes. “Quero que a xilogravura interesse a mais pessoas, cujo gosto não se satisfaz com o nosso modelo tradicional, que, aliás, gosto e admiro. Mas a madeira, no sentido literal, é a “tábula rasa”, onde se pode gravar o que se desejar e atende ao projeto tanto de uma xilogravura clássica como aos requisitos da arte contemporânea”.

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