Por Wilson Borba
Fotos Allan Bastos
Vejo distante a senhora em seu cavalete adicionando mais um pouco de tinta ao rosto da diva. Esta imagem lúdica percorre o imaginário como um quadro de Pierre Cardin, mas esta cena não é uma pintura, ela é real.
O autor do livro O Ato Fotográfico, Philippe Dubois, diz em sua obra que a fotografia é o olhar recortado do real. Será mesmo? Poderíamos não interferir na fotografia? Para Telma Saraiva isto não existe. A interferência pode ser feita com pinceladas de tinta, oferecendo à fotografia o olhar e a perspectiva do artista.
O primeiro registro fotográfico da artista não era exatamente impresso em papel Kodak e sim em folhas de papel comum em seu caderno de desenhos. Ela começou despretenciosamente. Nesta época, a menina Telma fazia desenhos de suas colegas e professores do Colégio Santa Teresa de Jesus, em Crato. Retratos esses coloridos com lápis de cor pastel, revelando que aquela adolescente iria despontar como uma artista plástica e fotógrafa precoce no seio da sociedade caririense.
A fotografia. Esta surgiu graças a sua família, mas especificamente através de seu pai Júlio Saraiva que mantinha um estúdio fotográfico. Nesta mesma época, foi incentivada pelo pai a assistir filmes legendados no Cine Cassino Sul Americano com a intenção de treinar a leitura rápida. Aqui, se é que podemos dizer, começou sua carreira como atriz de Hollywood.
A adolescente Telma Saraiva apaixonou-se por aquele mundo mágico que o cinema lhe apresentava e começou a imaginar-se como Vivian Leigh, Rossana Podestà, Jane Frazee, Judy Garland, Rita Hayword, entre tantas outras. Nesta mesma ocasião, Telma iniciou a sua coleção de revistas A Cena Muda e de embalagens dos sabonetes Lever, ambos traziam em seu conteúdo matérias e informações sobre as celebridades de Hollywood.
Telma em seus pequenos, mas grandiosos sonhos adolescentes começou a se imaginar uma atriz do lindo sonho americano. A experiência com aquarela e com a fotografia levou-lhe a pensar algo inusitado, “Por que não se fotografar como atriz de Hollywood?”. Melhor, “Por que não se pintar?”, lembra a artista. A época era 1940 e através de um anúncio na mesma revista que colecionava conseguiu comprar as tintas importadas para iniciar o trabalho que marcaria a sua vida.
A artista fazia tudo. Iniciava o processo com a maquiagem e penteados, confeccionava as roupas, se auto-fotografava, revelava em preto e branco e aí sim, colocava cor sobre a impressão fotográfica. Na pintura era onde surgiam adereços e enfeites, por exemplo: Os óculos Ray Ban, muito famosos na época, surgiriam na pintura ou até mesmo rugas indesejadas poderiam ser retiradas sem o menor remorso. A metamorfose estava completa. “Eu via as artistas no cinema, achava bonita e comecei a querer me retratar como elas. Assistia aos filmes que tinha artistas vestidas de roupas da Grécia, aí eu fazia as roupas e o penteado. Depois fui me introduzindo na parte de estúdio com o meu pai e aprendendo a manejar as máquinas e já fui fazendo as auto-fotografias. As máquinas tinham aqueles disparos automáticos. Então, usava espelhos e os colocava atrás da Câmera e ficava me vendo como ia sair na foto” comenta Telma.
Pintar as fotografias não era algo tão comum como imaginamos, a quem diga que Telma pode ser a verdadeira descobridora do Photoshop tão usado nos dias atuais. O artifício da pintura mostrava-se uma possibilidade para transformação. A arte de Telma tão despretensiosa, no início, se mostraria um grande trunfo ante a possibilidade de encontro entre o mundo real e o imaginário adolescente das décadas de 40 e 50.
Mas, as fantasias de Telma vão além dos retratos fotopintados. Ela começou a construir um mundo diferente para si. Além das roupas e penteados, a artista Telma Saraiva iniciou também a ambientação do que poderíamos chamar de espaço dos sonhos hollywoodianos. Sua casa parece ter saído das películas de E o Vento Levou... A Scarlat O’hara/ Telma Saraiva teria enfim o seu palácio para reinar como diva absoluta.
Ambientado com móveis coloniais, nenhuma atriz de Hollywood ficaria pouco à vontade na casa da artista. Seus quartos, salas, jardins, e tudo o mais na casa nos transportam para épocas diferentes. “É uma casa diferente, eu sempre gostei das coisas antigas, pois são feitas com capricho e feitas à mão, não é trabalho com máquinas, armazenadas e feitas em série. Eu tenho conservado a minha casa neste estilo”, orgulha-se a artista.
Mas, Telma somente veio a ser descoberta para a fama em 2005 quando o fotógrafo e professor da Universidade Regional do Cariri – URCA, Titus Rield organizou uma exposição de suas fotopinturas no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura - CDMAC, em Fortaleza. Antes disso, os trabalhos de Telma eram vistos apenas nas casas de seus clientes, como decoração e recordação em suas salas de visita.
De lá para cá ocorreram diversas exposições; em 2006 na Pinacoteca do estado de São Paulo e, em 2008 na Galeria Estação, também na capital paulista, intitulada: Telma Saraiva – A procura de um mito.
Nesta exposição, Telma “conversa” com a atriz Marilyn Monroe. São 150 fotografias da artista caririense que estão expostas junto as 60 fotos feitas pelo americano Bert Stern dias antes da morte do furacão Marilyn. O que mais impressiona nas exposições é a forma como foram estruturadas, de um lado a atriz americana despida de todos os estereótipos criados pela mídia sensacionalista americana e de outro a anônima Telma e suas nuances artísticas em busca de uma projeção hollywoodiana. O mito versus a procura de um mito.
As coincidências não terminam aqui. Telma ou Norma? Esta foi a primeira dúvida que o senhor Júlio Saraiva sentiu ao nascer sua filha. Telma foi o nome escolhido, mas que neste momento encontra-se cara a cara com a Norma Jean Baker ou Marilyn Monroe. Nesta mesma exposição, foi solicitada da artista uma releitura de Marilyn e qual não foi a surpresa do curador quando uma jovial senhora de 76 anos se despiu de suas vaidades para trazer do seu imaginário composições inspiradas neste ensaio. São quatro fotos da Telma atual que demonstram toda a imaginação e sensualidade da artista.
Hoje, neste exato momento, Telma ainda continua trabalhando. Não mais nas fotopinturas das divas, mas em restaurações e outras pinturas. Porém, o sonho nunca morre, ele renasce diferente e inteiro para um dia tornar-se musa. Telma já não procura mais o mito, ela o é por inteira.
O autor do livro O Ato Fotográfico, Philippe Dubois, diz em sua obra que a fotografia é o olhar recortado do real. Será mesmo? Poderíamos não interferir na fotografia? Para Telma Saraiva isto não existe. A interferência pode ser feita com pinceladas de tinta, oferecendo à fotografia o olhar e a perspectiva do artista.
O primeiro registro fotográfico da artista não era exatamente impresso em papel Kodak e sim em folhas de papel comum em seu caderno de desenhos. Ela começou despretenciosamente. Nesta época, a menina Telma fazia desenhos de suas colegas e professores do Colégio Santa Teresa de Jesus, em Crato. Retratos esses coloridos com lápis de cor pastel, revelando que aquela adolescente iria despontar como uma artista plástica e fotógrafa precoce no seio da sociedade caririense.
A fotografia. Esta surgiu graças a sua família, mas especificamente através de seu pai Júlio Saraiva que mantinha um estúdio fotográfico. Nesta mesma época, foi incentivada pelo pai a assistir filmes legendados no Cine Cassino Sul Americano com a intenção de treinar a leitura rápida. Aqui, se é que podemos dizer, começou sua carreira como atriz de Hollywood.
A adolescente Telma Saraiva apaixonou-se por aquele mundo mágico que o cinema lhe apresentava e começou a imaginar-se como Vivian Leigh, Rossana Podestà, Jane Frazee, Judy Garland, Rita Hayword, entre tantas outras. Nesta mesma ocasião, Telma iniciou a sua coleção de revistas A Cena Muda e de embalagens dos sabonetes Lever, ambos traziam em seu conteúdo matérias e informações sobre as celebridades de Hollywood.
Telma em seus pequenos, mas grandiosos sonhos adolescentes começou a se imaginar uma atriz do lindo sonho americano. A experiência com aquarela e com a fotografia levou-lhe a pensar algo inusitado, “Por que não se fotografar como atriz de Hollywood?”. Melhor, “Por que não se pintar?”, lembra a artista. A época era 1940 e através de um anúncio na mesma revista que colecionava conseguiu comprar as tintas importadas para iniciar o trabalho que marcaria a sua vida.
A artista fazia tudo. Iniciava o processo com a maquiagem e penteados, confeccionava as roupas, se auto-fotografava, revelava em preto e branco e aí sim, colocava cor sobre a impressão fotográfica. Na pintura era onde surgiam adereços e enfeites, por exemplo: Os óculos Ray Ban, muito famosos na época, surgiriam na pintura ou até mesmo rugas indesejadas poderiam ser retiradas sem o menor remorso. A metamorfose estava completa. “Eu via as artistas no cinema, achava bonita e comecei a querer me retratar como elas. Assistia aos filmes que tinha artistas vestidas de roupas da Grécia, aí eu fazia as roupas e o penteado. Depois fui me introduzindo na parte de estúdio com o meu pai e aprendendo a manejar as máquinas e já fui fazendo as auto-fotografias. As máquinas tinham aqueles disparos automáticos. Então, usava espelhos e os colocava atrás da Câmera e ficava me vendo como ia sair na foto” comenta Telma.
Pintar as fotografias não era algo tão comum como imaginamos, a quem diga que Telma pode ser a verdadeira descobridora do Photoshop tão usado nos dias atuais. O artifício da pintura mostrava-se uma possibilidade para transformação. A arte de Telma tão despretensiosa, no início, se mostraria um grande trunfo ante a possibilidade de encontro entre o mundo real e o imaginário adolescente das décadas de 40 e 50.
Mas, as fantasias de Telma vão além dos retratos fotopintados. Ela começou a construir um mundo diferente para si. Além das roupas e penteados, a artista Telma Saraiva iniciou também a ambientação do que poderíamos chamar de espaço dos sonhos hollywoodianos. Sua casa parece ter saído das películas de E o Vento Levou... A Scarlat O’hara/ Telma Saraiva teria enfim o seu palácio para reinar como diva absoluta.
Ambientado com móveis coloniais, nenhuma atriz de Hollywood ficaria pouco à vontade na casa da artista. Seus quartos, salas, jardins, e tudo o mais na casa nos transportam para épocas diferentes. “É uma casa diferente, eu sempre gostei das coisas antigas, pois são feitas com capricho e feitas à mão, não é trabalho com máquinas, armazenadas e feitas em série. Eu tenho conservado a minha casa neste estilo”, orgulha-se a artista.
Mas, Telma somente veio a ser descoberta para a fama em 2005 quando o fotógrafo e professor da Universidade Regional do Cariri – URCA, Titus Rield organizou uma exposição de suas fotopinturas no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura - CDMAC, em Fortaleza. Antes disso, os trabalhos de Telma eram vistos apenas nas casas de seus clientes, como decoração e recordação em suas salas de visita.
De lá para cá ocorreram diversas exposições; em 2006 na Pinacoteca do estado de São Paulo e, em 2008 na Galeria Estação, também na capital paulista, intitulada: Telma Saraiva – A procura de um mito.
Nesta exposição, Telma “conversa” com a atriz Marilyn Monroe. São 150 fotografias da artista caririense que estão expostas junto as 60 fotos feitas pelo americano Bert Stern dias antes da morte do furacão Marilyn. O que mais impressiona nas exposições é a forma como foram estruturadas, de um lado a atriz americana despida de todos os estereótipos criados pela mídia sensacionalista americana e de outro a anônima Telma e suas nuances artísticas em busca de uma projeção hollywoodiana. O mito versus a procura de um mito.
As coincidências não terminam aqui. Telma ou Norma? Esta foi a primeira dúvida que o senhor Júlio Saraiva sentiu ao nascer sua filha. Telma foi o nome escolhido, mas que neste momento encontra-se cara a cara com a Norma Jean Baker ou Marilyn Monroe. Nesta mesma exposição, foi solicitada da artista uma releitura de Marilyn e qual não foi a surpresa do curador quando uma jovial senhora de 76 anos se despiu de suas vaidades para trazer do seu imaginário composições inspiradas neste ensaio. São quatro fotos da Telma atual que demonstram toda a imaginação e sensualidade da artista.
Hoje, neste exato momento, Telma ainda continua trabalhando. Não mais nas fotopinturas das divas, mas em restaurações e outras pinturas. Porém, o sonho nunca morre, ele renasce diferente e inteiro para um dia tornar-se musa. Telma já não procura mais o mito, ela o é por inteira.
0 comentários:
Postar um comentário