Projeto Curta Muito - OUTUBRO


Curtas metragens de Santa Maria – RS são destaques do mês de outubro no projeto Curta Muito.

Uma boa parceria que vem dando resultado é o projeto Curta Muito do Centro Cultural Banco do Nordeste do Brasil – CCBNB e o Coletivo Malungo. Pensando na diversidade de olhares e na oportunidade de socialização dos produtos audiovisuais o Coletivo Malungo preparou uma seleção com dois curtas-metragens da produção da Estação Cinema de Santa Maria -RS.

A Estação Cinema - Associação dos Profissionais Técnicos de Cinema e Vídeo de Santa Maria - é a entidade de classe representativa do setor audiovisual da cidade e região. Foi fundada em 06 de abril de 2002 com o objetivo de promover o debate e fomentar a prática do fazer audiovisual, e desde então realiza várias atividades de intercâmbio e valorização dos profissionais técnicos da área, bem como de todos aqueles que apreciam a arte cinematográfica. Promove também debates e exibições conjuntas com o movimento cineclubista e participa de atividades em todo o país. Realiza as edições do Seminário Gaúcho de Cinema, em parceria com o Festival Santa Maria Vídeo e Cinema, e também o grupo de estudos de cinema. Os curtas foram extraídos do DVD Estação Cinema Vol 1. que tem em seu acervo 11 curtas produzidos pelos profissionais da Estação.

Ao todo foram seis curtas metragens lançados na sociedade caririense, apresentando o mundo através das telas de cinema. Neste mês de outubro os filmes 1969 e Farsa Seca mostram o panorama cinematográfico desenvolvido pra bandas do sul, organizando um diálogo entre sul e nordeste, ou melhor, entre Cariri e Santa Maria.

As exibições acontecerão no Auditório do Centro Cultural do Araripe e no Coletivo Malungo, nos dias 10 e 25 de outubro respectivamente. Separe um tempo para curtir o bom cinema feito no Brasil e lembre-se que as exibições começam as 17 horas no largo da RFFSA e as 21 horas no Coletivo.


Sobre os filmes:

1969: (dir. Mauricio Canterle & Manolo Zanella - Ficção - 2004 - 16 min)
Sinopse: Caio é um rapaz que ama o cinema e sonha em um dia poder estar trabalhando e vivendo dessa arte, ele mora sozinho e estuda para o vestibular de um curso que não lhe agrada nem um pouco, ou melhor, lhe revolta. O pai de Caio mora no interior e é responsável pela insatisfação do filho com os estudos. Insiste em oprimi-lo, com suas regras e atitudes ditatoriais, tornando toda família submissa. A família de Caio decidiu visitá-lo e ele tomou a decisão de acabar de vez com aquela palhaçada. O método que ele utilizou para isso foi, no mínimo, inusitado.
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Farsa Seca: (dir. Fabrício Koltermann - Ficcção - 2007 - 12 min)
Sinopse: Um roubo transforma um cidadão sem muito sucesso em herói municipal, ou não.

Cores, Ritmo e Dança



Fotos Rafael Vilarouca/ Franklin Lacerda


Dentre todas as manifestações culturais do Cariri, qual delas abordaremos? Todas têm o seu legado e contribuição, reconheço, mas qual delas ainda não foi explorada pelas páginas, lentes e microfones da mídia ávida por notícias? E, principalmente, quais destas ainda mantêm seu formato puro e íntegro das construções ancestrais?
Num primeiro momento esta decisão não foi fácil, mas bastou puxar um pouco pela memória para lembrar que de dentro de um dos bairros mais populares da cidade do Crato, brota a força de um dos grupos de maior representatividade da região, o Coco das Mulheres da Batateira.
O bairro Gisélia Pinheiro, conhecido como Batateira, é um dos lugares mais carentes da cidade do Crato. Como se encontra aos pés da rodovia CE 230 toda a estrutura do lugar é voltada para suprir as necessidades das pessoas e carretas que por ali passam diariamente. Por conta disso, criou-se certa marginalidade e prostituição que afeta diretamente os moradores do lugar. Pensando nisso, as várias manifestações culturais e aparelhos sociais existentes no local dão o tom de inclusão para jovens, adultos e idosos da comunidade.
Ao telefone marcamos a entrevista, numa manhã de domingo, com a Mestra do grupo, a senhora Edite Dias. No dia e horário combinados fomos ao encontro. Qual não foi a surpresa ao encontrar nossa entrevistada sentada em seu sofá saboreando a sua merecida manhã de descanso. Ao ver o carro, susto... A nossa anfitriã manda a frase: “Puxa, tinha esquecido que vocês vinham. Vocês me desculpam meus filhos?” Isto soou como um balde de água fria nos planos. Mas, antes que o nosso leitor pense que este esquecimento possa parecer desleixo, vale ressaltar que as Mulheres do Coco da Batateira são todas agricultoras e trabalham em suas roças para garantir o seu sustento diário e que entre idas e vindas de sol a sol essas senhoras guerreiras ainda encontram forças para dançar o Coco que, diga-se de passagem, provoca alegria, euforia e encantamento em quem vê.
O que nos pareceu de antemão um problema foi rapidamente solucionado pela Mestra que em questão de minutos reuniu ali na frente dos nossos olhos, seis senhorinhas idosas cheias de energia e disposição para nos oferecer uma das conversas mais agradáveis das entrevistas feitas para esta revista.
Todo mundo acredita que a dança e as músicas do Coco que conhecemos hoje surgiu em Pernambuco, isso graças à enorme popularidade que os artistas, cantores e compositores deste estado produziram, entre eles estão: Selma do Coco, Lia de Itamaracá e Zé Neguinho do Coco. Porém, para quem não conhece o ritmo e a dança, eles surgiram dos descendentes africanos e indígenas que viram no trabalho de quebra do coco de babaçu a inspiração para as danças e músicas desta manifestação popular. Há quem diga que apesar de mais freqüente no litoral, o Coco teria surgido no interior, provavelmente no Quilombo dos Palmares, a partir do ritmo em que os cocos eram quebrados para a retirada das amêndoas. A palavra Coco significa cabeça que é de onde vêm as músicas de letras simples. É uma dança de roda acompanhada de cantoria e executada em pares, fileiras ou círculos durante as festas populares.
O Coco da Mulheres da Batateira não data deste período. Ele teve início em 1979, no Movimento Brasileiro de Alfabetização – MOBRAL, na cidade do Crato, e o grande incentivador do surgimento do grupo foi o Mestre Eloi Teles que insistiu junto às mulheres que se reunissem e montassem uma apresentação para a semana do folclore desenvolvida na escola. Na época, apenas duas senhoras conheciam as toadas e as pisadas desse ritmo, mas o que era para ser um desafio transformou-se numa gostosa brincadeira que vive até hoje. “Na época ficou um grupo grande de mulheres, nós brincávamos em comemorações de dia de reis, renovações e festas juninas, além de fazermos ‘festinhas’ para nós mesmos”, conta Dona Edite Dias, Mestra do grupo.
A energia do Coco foi contagiando as mulheres de tal maneira que esta brincadeira passou a fazer parte do dia-a-dia dessas senhoras. As apresentações foram conseqüência desse desejo de estarem sempre juntas cantando e dançando o Coco, aliado a energia vibrante do ritmo. Coincidência ou não, as Mulheres do Coco conheceram uma das coordenadoras do Centro de Estudo do Menor e Integração na Comunidade – CEMIC que lhes falou sobre a formação do grupo, vestimentas e apresentações, além de expor propostas e explicações sobre a formação de grupos folclóricos, oferecendo-se para doar as vestimentas que usariam em suas apresentações. Da formação inicial, somente três mulheres ainda compõe o grupo, mas esta ideologia já se mostra latente com a formação de três grupos mirins que caminham entre o Maneiro Pau e o Coco, mostrando que a identidade cultural das crianças do bairro pode e deve ser incentivada.
“O Coco para nós que brincamos, representa muita coisa. Representa nós se valorizar, animar o nosso bairro que é muito esquecido e esquisito, pegar mais energia, porque a gente pega uma energia danada quando dançamos o Coco. Ás vezes, a gente esta meio baqueado (sic!) e quando dançamos o coco as coisas melhoram para todo mundo”, nos conta Terezinha de Lima, integrante do grupo.
Longe de ser um grupo famoso, o Coco das Mulheres da Batateira ainda acredita que possa realizar um dia o tão desejado sonho da gravação de um CD com suas músicas e como disse o velho poeta: “Sonho que se sonha junto é realidade”. Foi o que nos mostrou as senhorinhas que numa tarde de carnaval buscaram a inspiração das festas para brincar mais uma vez o seu precioso Coco e, neste momento, vimos que se houvessem mais vinte quatro horas, aquelas pequenas senhoras de tamanho, mas grandes de coração dançariam ali até não restar mais dúvidas de que o seu maior prazer é o Coco. E tome energia!


Contos e Encantos


Uma família, pai, mãe, oito filhos e um genro viajam o país levando em suas bagagens, além das caixas com bonecos, seus sorrisos, suas alegrias e brincadeiras.

Fotos Divulgação Carroça de Mamulengos


Viver e respirar arte faz parte da trajetória do grupo Carroça de Mamulengos. Esta trupe de saltimbancos formada por 11 integrantes estão na estrada desde a década de 80. O grupo composto por: atores-manipuladores de bonecos gigantes; músicos; palhaços; acrobatas e malabaristas em pernas-de-pau celebram por meio de poemas e canções, a cultura e arte brasileira.
No início era apenas Carlos Gomide e sua caixa de mamulengos. Em 1977 ele entrou para o grupo de teatro que coincidentemente chamava-se Carroça, dirigido por Humberto Pedrancini, e nele realizou alguns trabalhos com bonecos feitos de sucatas. Na época montou um espetáculo com textos de fábulas, já visualizando o teatro de bonecos como linguagem para o seu trabalho. Era o começo de uma vivência que se estenderia para outra geração. Somente na década de 80 quando foi morar em Brasília, conheceu Shirley França, sua atual companheira, surgindo deste encontro o Carroça de Mamulengos.
Desde o principio, a dupla, teve a intenção de projetar e realizar os sonhos de transformar a realidade pela arte, dar vida à vida, fazer teatro de rua e brincar. Simples, mas elaborado. Assim define Shirley quando se refere ao tratamento dado a toda composição de espetáculo do Carroça. Pois, por mais que tenha essa elaboração minuciosa, elas são tratadas com simplicidade e singeleza possibilitando uma interação profunda de coração com a platéia.

No surgimento do grupo Carroça, Carlos Gomide conviveu com grandes mestres, como: Os Irmãos Relâmpago, Chico de Daniel, Pedro Boca Rica, entre outros; além de aprofundar seu aprendizado com o mestre Antônio do Babau em Mari, na Paraíba. Qual a importância da companhia ter se aproximado desses mestres da cultura?
Na verdade, quando você faz uma opção de vida como essa, você pensa: Onde buscar esse conhecimento? Você vai as Universidades? as bibliotecas? Aos centros urbanos? Aonde, aonde? Não é muito raro que exista um nordestino, dentro de um centro urbano, lá escondidinho, tentando levar sua arte. Naturalmente isso está no interior do Brasil, onde as coisas acontecem, com mais facilidade nas cidades pequenas, onde a cultura popular pulsa, onde tem uma movimentação religiosa e uma resistência cultural. Então, a partir daí foi opção dele, e depois, conseqüentemente, a minha e dos meus filhos. Viver no meio dessa efervescência cultural, que está no interior do Brasil, seja em Goiás, nos conjuntos de Catira, com os Violeiros em Minas Gerais ou no Rio de Janeiro com o Jongo

O grupo Carroça de Mamulengos escolheu o Cariri para fazer sua morada. Como vocês chegaram até esta região para trabalhar com Cultura Popular?

Quando eu conheci o Carlos, eu já tinha uma experiência com Teatro em Brasília. Só que era um teatro mais ligado ao palco italiano, a estrutura de texto, a exercícios de laboratórios, bem dentro da formação teatral convencional e acadêmica. Então, eu já estava na faculdade quando conheci o Carlos e eu fiz a opção de largar esse meio e saí com ele para viajar o Brasil, fazer outro tipo de faculdade. Um outro estudo que é de campo, conhecendo pessoas nessa vivência. E foi assim que nós saímos de Brasília, Carlos e Eu. Nós tivemos o intuito de vir justamente para o Cariri, por causa da relação com o Padre Cícero, as questões religiosas da região, dos movimentos sociais que aconteceram por aqui e dessa efervescência cultural que a gente sabia que existia. Quando chegamos em Fortaleza, pegamos um trem e viemos até o Crato. A princípio, a idéia era morar no Crato, mas quando conhecemos o Juazeiro, nos identificamos mais, pela questão populacional, por estar mais próximos destas pessoas mais simples. Conseqüentemente, viemos para ficar e fomos começar a vivenciar o que a gente sabia fazer.

Uma coisa que nos encantou bastante foi o fato de ser uma trupe numerosa, todos serem da mesma família e fazerem parte do mesmo contexto artístico e cultural que vocês vivenciam desde a década de 70. O surgimento dos personagens acontecia na medida em que os filhos vinham nascendo?
Nós nunca quisemos que as crianças ficassem em casa. Nem eu mesma, grávida ou por causa de ter menino pequeno, ficava em casa. Então, eu estava em todos os momentos do Carroça, seja ajudando nos mamulengos, trabalhando na rua, montando o Palhaço Alegria ou em cena até a hora de ter o neném. Quando tinha o neném, ficava num cantinho, tinha o resguardo normal e o Carlos continuava batalhando. A partir do momento que o neném crescia, ficava durinho um pouquinho, eu já estava na rua de novo rodando o chapéu e fazendo os espetáculos.
Quando a Maria completou dois anos, nós criamos para ela um personagem, que foi uma burrinha. Essa burrinha foi o marco, também, na história do Carroça. Porque essa mesma burrinha está em cena até hoje. Todos os filhos brincaram – a Maria, o Antônio, o Francisco, o João, o Pedro, o Matheus, a Luzia e a Isabel. Então, esse personagem já era uma força, porque a Maria não ficava assistindo; ela se sentia parte da brincadeira dos pais dela. Nós queríamos que fosse uma brincadeira para ela também. Logo em seguida, mesmo sem eu esperar, Papai do Céu mandou o Antônio para mim. Quando o Antônio cresceu, a Maria já estava maiorzinha e a burrinha ficou pequena para ela. Aí inventamos um cabritinho. Maria ficou brincando com o cabritinho e o Antônio ficou brincando na burrinha. Aí, nesse momento, foi interessante, porque eu comecei a orientar a Maria para a questão cênica, de como se comportar, de como falar alto e como se expressar diante dos espetáculos. Então, a Maria entrou em cena aos dois anos e hoje está com 23 anos, e nunca mais saiu de cena.
Em que momento vocês começaram a incorporar a seus espetáculos projetos de apoio cultural?
Os incentivos culturais mesmo, para ser sincera, na história da gente não chega a compor os dedos da mão esquerda. Então, foram pouquíssimos. Inclusive, nós não acreditamos nos incentivos culturais como profissões da verdadeira arte. Principalmente, porque nós estamos do lado dos mestres da Cultura Popular, nossos mestres anônimos, e estes mestres hoje estão morrendo à míngua e estão passando uma dificuldade muito grande por conta de não terem acesso, ainda real, a esses meios que estão estabelecidos no Brasil. Esses incentivos culturais ainda são para poucos, ainda são para aquelas pessoas informatizadas, aqueles que sabem fazer os formulários de preenchimento, que sabem entrar dentro dessas mamatas governamentais, destes meios burocráticos. Se você se vincular a um incentivo cultural, você tem que se vincular a uma série de questões, principalmente políticas.

Quem faz os figurinos e os cenários dos espetáculos?
Toda a confecção do material cênico do Carroça de Mamulengos passa pela gente. Os bonecos e o cenário. Agora, os figurinos, às vezes, precisam de algum corte e costura. Então, temos costureiras que nos ajudam na composição desses figurinos. Mas, toda a elaboração é feita por nós.

Em que momento a Música veio aparecer nos espetáculos do Carroça de Mamulengos?
Bom, aí entra a questão dos filhos. Porque nós sempre tivemos uma ligação com a Música, seja através de um pandeiro ou de uma caixinha que a gente tocava. Mas, a Maria cresceu e foi trilhando um caminho próprio, como também o Antônio e o Francisco. Já o Carlos e Eu nos ligamos ao teatro de bonecos. Então, a Maria desenvolveu esse lado musical e com ela veio à elaboração musical do grupo. Porque ela, dentro da estrutura familiar, é uma musicista. Ela optou por esse caminho. Ela me disse: - Olha mãe, eu não quero artes plásticas, nem teatro de bonecos. Eu estou em cena, gosto de representar, de ser artista e de cantar com o meu pai; mas, quero mesmo é tocar. Ela desenvolve a composição musical do grupo, ou seja, puxa todo mundo para entrar no tom e executa a direção musical do espetáculo. O Carlos, por outro lado, além de ser o artista plástico, na questão de composição dos bonecos, é também o compositor. Então, nesses anos de andanças, ele criou esse meio de ligação com o divino que é escrever. Ele escreve os temas e as poesias. Tanto que o CD Alumiação, que foi gravado na Paraíba, das vinte composições, doze são do Carlos e oito de domínio público.

Qual foi o ano de nascimento do CD Alumiação?
Foi há doze anos. Um CD que praticamente nós reimprimimos ele sempre. Hoje, nós já temos, mais ou menos, uma média de 16 mil cópias já distribuídas. Isso de mão em mão, doadas, presenteadas, de todo jeito. É um CD que vem trazendo histórias. Muitas crianças que escutaram pequenininhas já são pais. Os pais já passam para seus filhos e querem um novo CD, porque pretendem presentear os amigos ou os afilhados. É um CD que vai compondo a história. Agora, dessas músicas atuais do Carlos, que tem mais de cem composições, nós não gravamos mais nenhum disco. Então, a gente está sempre com esse sonho e esse projeto de criar com essas composições um disco, de repente até um disco duplo. Aí, seria um disco completamente diferente do CD Alumiação, que basicamente é uma história de teatro e circo, o tema dos personagens e as canções de palhaço. Nessa nova fase, esse novo disco que o Carroça pretende fazer, já vai entrar baião, xote, xaxado, marchinha e valsa.

Todos os filhos iniciaram na música de forma autodidata?
O incentivo é autodidata, porque a partir do momento que eu optei viver de arte com o meu companheiro, o nosso meio sempre é voltado pra isso. Nós nunca estamos do lado convencional da vida. A gente vai pelas veredas e pelos caminhos mais estreitos. Por isso, sempre conhecemos músicos, artistas, pessoas que a gente encontra na brincadeira e simpatiza, amigos que a gente vai encontrando e formando essa teia. É essa cadeia que vai formando e sustentando a nossa família. Sustentando os nossos filhos e ajudando na educação deles e nos alimentando desse ideal de vida. Então, por exemplo, estávamos em Goiás, em Águas Lindas, o que há de melhor na história da Viola do Estado, ou seja, o Roberto Correia já estava lá nos acompanhando e sendo nosso amigo. Ele estava com a gente no meio da convivência e a Maria vivenciando todos os ensinamentos com ele. Em Campinas (SP), nós aprendemos muito com o Paulo Freire e a companheira dele. É a possibilidade de nossos filhos estarem nessa convivência harmônica e de amizade, principalmente de amizade sincera, que ampara a gente neste Brasil a fora e aqui no Cariri do mesmo jeito, que podemos proporcionar e vivenciar este aprendizado junto com todos esses amigos. A partir daí, é um pulinho para que as crianças tenham suas vivências naturais e façam isso cotidianamente. Eles não precisam acordar de manhã e ir para uma universidade estudar isso, eles estão vivendo no café da manhã, no almoço, no jantar, na saída, em todo lugar, ou seja, a Música e a Arte. A gente respira e vive Arte em todos os momentos da nossa vida. Isso facilita essa história de sermos autodidatas, de estar buscando esse caminho. É claro que tem que ter um pouquinho de pulso firme, de dedicação minha e do Carlos para que a gente facilite e dê a chance para que isso possa acontecer.



Vocês trabalham oferecendo oficinas para as comunidades, como: Alimentos da Terra, Oficina de Brinquedos Populares, Cameloturgia, Pífano, Percussão e Bonecos. Essas oficinas são ministradas somente aqui no Cariri ou vocês oferecem essas oficinas pelos lugares por onde passam?
Como o grupo é enorme e foi crescendo cada vez mais, aconteceu uma conseqüência, que não foi somente a história de brincar, de estar em cena, mas fazer uma troca. Veio surgindo à história do alimento, do pão, das coisas que são esquecidas hoje como patrimônio cultural de um povo que é essa forma de se alimentar, esta forma de se vestir, as nossas músicas e as tradições. Tudo hoje se compra no supermercado e não é assim. Você pode pegar um milho verde, trazer para cá e fazer um bolo, você pode comprar a mandioca e fazer sua farinha dentro de casa. Mas, as pessoas perderam o vínculo com a Mãe Terra e com a natureza. A partir disso, nós desenvolvemos essas vivências e, onde estivermos e formos convidados, levamos, além de todos os espetáculos, as nossas vivências que são essas coisas ligadas aos alimentos, aos brinquedos populares, aos bonecos feitos com cabaça, bonecos de mamulengo e algumas técnicas circenses (a perna de pau, o malabares ou coisas mais simples de base de circo).

Ficamos bastante curiosos com esse termo Cameloturgia, o que seria?
A definição é do próprio Carlos. Um verdadeiro camelô tem todo o tempo, uma roda fechada em volta dele. Porque ali, ele quer vender um produto. Mas, para vender esse produto, ele vai falar da flora brasileira, dos animais e de outros tantos assuntos, até chegar na venda da banha do peixe-boi. E nisso, ele passa ali duas horas, três horas, quatro horas nesta roda fechada e ele fez o que tinha de fazer naquele momento. Ele passou uma comunicação, fez um diálogo com aquele público e vendeu a sua banha do peixe-boi. Então, essa linguagem foi transformada para dentro do nosso teatro. Então, tem que ser uma coisa muito verdadeira, tem que ser um diálogo muito intenso, por isso entrou essa pesquisa e essa inspiração no camelô. A Cameloturgia é a linguagem do camelô que a gente misturou à Dramaturgia, surgindo a Cameloturgia.

O espetáculo Os Afilhados do Padrinho é bem inusitado para o Carroça de Mamulengos. O que se vê é que esta montagem é bem diferente dos espetáculos com bonecos, como: Viva o Mamulengo; Seja Noite ou Seja Dia Viva o Palhaço Alegria e Histórias de Teatro e Circo. Como surgiu o espetáculo Os Afilhados do Padrinho?
Histórias de Teatro e Circo é uma brincadeira que representa toda a cristalização desses anos de história da gente. É tanto, que a burrinha está em cena, a cabritinha, o tamanduá, o veadinho, todos os personagens que trilharam nossa história junto conosco. O Seja Noite ou Seja Dia Viva o Palhaço Alegria remete a nossa origem, que era somente o Carlos e Eu brincando com esse boneco gigante pelas ruas e praças do Brasil. O Viva o Mamulengo já era anterior a tudo isso. Mas, hoje, o Viva o Mamulengo já tem a participação dos nossos filhos, são eles que tocam e acompanham esse espetáculo com a rabeca, o violão, o pífano e a percussão. E Os Afilhados do Padrinho surgiu, justamente, da necessidade de mostrar as composições que o Carlos tem e que são temas de boi, cirandas, baiões e marchas, juntamente com a vivência musical que a Maria trouxe para o Carroça de Mamulengos.



Neste espetáculo, vocês remetem, tanto ao Padre Cícero, como ao Cristo Redentor. Desde o início, vocês tiveram essa vontade de mostrar o Juazeiro como morada ou como pouso do Carroça de Mamulengos?
A cristalização deste espetáculo surgiu em 2005. Por conta, justamente, de uma viagem que fizemos à França. Nós queríamos ir à França levando toda a nossa estrutura de espetáculos e o nosso repertório musical. Então, levamos o Palhaço Alegria, o Mamulengo, a História de Teatro e Circo, as oficinas, as exposições de bonecos de cabaça e de pano. E, conseqüentemente, levamos a música do Brasil representada no espetáculo Os Afilhados do Padrinho. E como tudo o que a gente faz é simples e elaborado, nós construímos o cenário, o figurino e toda a estrutura de ensaio. E a idéia foi justamente essa: de mostrar a nossa origem e opção de vida de está morando e vivenciando no Cariri. Quisemos mostrar a nossa relação com o Padre Cícero e com o símbolo do Brasil, que é o Cristo Redentor no Rio Janeiro. De certa forma, temos um pezinho aqui e um pezinho no Sudeste.


Para finalizar. Existe uma frase de Carlos Gomide que afirma: “A arte surgiu para celebrar a fartura. Temos que produzir a abundância e compartilhar”. A que fartura vocês se referem?
Tem uma questão muito superior que nos guia; é uma frase de Jesus Cristo: “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (JO – 10: 10). Jesus já falava isso e nós fomos testando na nossa pequenez fazer com que seja realidade. Não colocando os obstáculos na frente das questões biológicas e fazendo com que tudo isso atrapalhe a concretização dos nossos sonhos. Fazendo, realmente, o máximo possível para que isso se realize nas coisas simples das nossas vidas. É o que nós podemos fazer por nós mesmos. Então, por exemplo, aqui na comunidade do João Cabral, temos um trabalho vinculado à população, um trabalho pequenininho, mas que já está trazendo muitos frutos. Temos, em média, umas 150 pessoas que estão diretamente ligadas a nós, ou seja, crianças, adolescentes e mães de família que estão entendendo um pouquinho dessa questão maior que é o amor ao próximo, a relação com a Mãe Terra, a importância de cuidar das nossas crianças, a valorização dos nossos mestres e do nosso patrimônio imaterial. Além do cuidado com os nossos idosos. Porque quando se começa a trabalhar com a Cultura e a Arte estamos fazendo uma ponte para a cidadania.
Devemos tentar fazer com que essa vida seja em abundância e que todos se contagiem através da nossa esperança, da nossa presença, do nosso bom humor e da nossa energia positiva. Fazer com que essas pessoas cresçam na sua auto-estima, principalmente. Porque a partir do momento que você se reconhece como cidadão, como ser criativo, como ser transformador, você não vai se deixar ser engolido por qualquer coisa, você vai ter consciência e vai saber que é um ser humano e que precisa viver. Hoje, imprimimos os Conselhos Ecológicos do Padre Cícero, vamos nos manter firmes nesta postura. Não podemos sair dessa linha. Tem que ter essa firmeza de pensamento para que dentro desses conselhos, deste mestre, nós possamos buscar um pouco e falar para todo o mundo.




Jogue a arte no ventilador



O CARIRI se mostra PLURAL em suas manifestações culturais e artísticas, são muitas as expressões latentes para pesquisar, procurar e registrar que tudo se torna minuciosamente mágico e lúdico. A todo o momento, o processo de construção da revista é guiado pelo amor de fazer arte e pelo fluxo de idéias que vão sendo apresentadas no decorrer da construção deste veículo. Apesar de complexo, a paixão de fazer este canal de divulgação da arte supera todos os obstáculos que vão se mostrando pelo caminho. Há muito a DIZER, SABER, COLHER e RECOLHER.
O MUNDO CHAMADO CARIRI é amplo demais para ficar somente em uma. Durante muito tempo pensamos que a ARTE DO CARIRI estava esquecida e fora do eixo de divulgação que tanto sonhávamos para a nossa região. Ao surgir à REVISTA ARTEPLURAL, começamos a pincelar vertentes de uma região que se transforma a cada nova estação. São muitos frutos maduros escondidos em busca de alguém que os procure para colher.
Por isso nos propusemos a fazê-la, para LAPIDAR de forma profunda todas as matérias que gostaríamos que ilustrassem estas páginas de forma a contribuir para a divulgação de algumas MANIFESTAÇÕES ARTÍSTICAS da região e buscando um pouco da essência do ser CARIRI, tão múltiplo em suas FACETAS CULTURAIS.
Para quem nunca conheceu a Região do Cariri, um conselho, permita-se vivenciar TATO, OLFATO, PALADAR, VISÃO E AUDIÇÃO.
Na verdade, O CARIRI SÃO VÁRIOS CARIRIS e como tal mostra-se maravilhoso e multicultural. VENTOS BONS sempre hão de soprar, mesmo que artificiais ou naturais, espalhando um pouco de BRILHO E COR por onde passarem e não importa se neste momento os ventos sopram no CEARÁ ou PARAÍBA, o importante é que eles sabem exatamente aonde querem chegar.

XILOGravura


Foi em 1999 que Maércio teve seu primeiro contato com a Xilogravura, nesta ocasião, ele talhou esse trabalho usando uma faca e uma tábua que ganhou do poeta e gráfico, Luciano Carneiro. Esta Xilogravura representando a fachada do Seminário São José, compunha seu livreto de Cordel “Breve histórico da fundação do Seminário São José do Crato”. “Apesar de muito grosseiro, o fato de eu “ter aprendido” a fazer xilogravura facilitava o trabalho na gráfica, pois não eram tão fáceis as encomendas com os gravadores de Juazeiro do Norte”, lembra o artista. Na época o único xilógrafo residente em Crato era Walderêdo Gonçalves, mas já não estava trabalhando, devido à idade avançada e os problemas na visão. Um outro xilógrafo chamado Geraldo Maranhão também fazia gravuras para a Academia, mas morava em Santana do Cariri. Então, Maércio, passou a receber encomendas da gráfica “Coisas do meu sertão” pertencente à Academia dos Cordelistas do Crato, o qual prestou serviço como xilógrafo de capa por um ano e meio.


O aprendizado se deu ao longo de anos. No princípio o trabalho de Maércio era feito as pressas, pois além de xilógrafo ele ensinava Filosofia no Seminário São José além de estudar letras na Universidade Regional do cariri – URCA, restando pouco tempo para se dedicar a xilogravura. Admitindo que o tempo fosse minguado, em 2000, ele começou a trabalhar junto com Carlos Henrique que segundo o artista: “é muito habilidoso na escultura e no trato com as madeiras em geral. Dei-lhe apenas algumas dicas, entre as quais a de que a tábua deveria ser uma espécie de carimbo”. Seu trabalho foi logo aceito com entusiasmo. Foi aí que o artista descobriu que uma pequena xilogravura de capa de cordel poderia tomar outros rumos mais detalhados.


Carlos Henrique - CH desenvolveu ferramentas de corte mais apropriadas, deu melhor atenção ao lixamento da madeira, enfatizou o corte preciso e nítido, e isso tudo resultava numa xilogravura que embelezava as capas de cordel. “Então, durante muitos sábados, o dia todo, em sua simplória oficina, tomei valiosas lições de CH, e sob a orientação dele comecei a preparar matrizes de tamanho grande. Mas para atingir o que eu tinha em mente, eu tive de me afastar em alguns pontos dos ensinamentos de CH. Mas sem esse tempo de aprendizado junto a esse artista, meu trabalho não seria possível”, conta Maércio. Durante um tempo o artista chegou a perder o interesse na xilogravura e somente em 2005, através de algumas leituras, tomou consciência da grandeza dessa arte, conhecendo os trabalhos de Alberto Dürer e as gravuras feitas sobre os desenhos de Gustave Doré. Assim ele decidiu se entregar ao aperfeiçoamento dessa técnica.


Para Maércio tudo começou com o cordel. Antes de entrar na arte da xilogravura, vários artistas gravadores arriscam escrever cordéis. Com sucesso, diga-se de passagem. Com o artista Maércio Lopes isso não poderia ser diferente. De 99 para cá, publicou dez cordéis e como membro da Academia dos Cordelistas do Crato assume essa literatura como parte da missão cultural que desenvolve. “Tanto assim, que uma das minhas gravuras, a que eu acho mais significativa, tem por tema a leitura e o cordel”.

O artista participa de coletivas desde 2007. A primeira foi a coletiva “Incisão”, do Centro Cultural Banco do Nordeste - CCBNB, em Juazeiro do Norte e a Mostra “O Cariri é aqui”, em Fortaleza, no mesmo ano. Maércio também Expôs com Carlos Henrique e Guto Bitu, no Maria Café, em Crato e na Mostra Desusa de Artes Visuais, da Universidade Regional do Cariri - URCA, trabalho este intitulado “Ao Senhor das Nações”, que inclusive está no cartaz e panfleto do evento.

Somente este ano, Maércio conquistou seu reconhecido destaque em duas exposições individuais. A primeira, nos meses de maio e junho, no Espaço Cultural Coletivo Malungo que reuniu dez peças numa exposição “Cenas de um Cariri”. E a segunda chamada “Impressão de Mundos” que reúne 35 xilogravuras e estão em exposição durante este mês de julho na Galeria do SESC-Crato. Esta mostra faz parte do Projeto Moldura Itinerante desenvolvido pelo Instituto Ecológico e Cultural Martins Filho – IEC, vinculado a Pró-Reitoria de Extensão da URCA e consiste no empréstimo de molduras para expor obras de artes visuais.



O que caracteriza a gravura do artista é evidente: o cuidado dado aos detalhes. O artista procura convencer o expectador de que o detalhe é também essencial. Com isso, Maércio deseja causar o deslumbramento, a interrogação, o espanto diante de uma coisa nova e considera a sua arte apologética. Maércio preocupa-se em demonstrar que a gravura em madeira pode ir por caminhos surpreendentes. “Quero que a xilogravura interesse a mais pessoas, cujo gosto não se satisfaz com o nosso modelo tradicional, que, aliás, gosto e admiro. Mas a madeira, no sentido literal, é a “tábula rasa”, onde se pode gravar o que se desejar e atende ao projeto tanto de uma xilogravura clássica como aos requisitos da arte contemporânea”.

Lirismo...

Escola de música da região serrana do Crato prepara jovens talentos para brilhar em orquestras pelo país.



Quarenta anos é o espaço de construção de um sonho que se iniciou em 1967. Hoje seu benfeitor com 90 anos de idade enxerga a juventude e a serenidade de quem construiu com muita luta um trabalho solidário para a criação de uma identidade cultural e musical na comunidade do Belmonte, região serrana do Crato. Inicialmente, a escola recebeu o nome de Escola de Educação Artística Heitor Villa Lobos. Posteriormente, Escola Lírica do Belmonte.
Ainda padre, em 1948, o Monsenhor Ágio era professor de música do Seminário São José, em Crato. Foi nesta época que despertou o desejo de desenvolver um trabalho de música em comunidades camponesas. “Comecei a sonhar e a pensar num trabalho rural em contato com o povo simples”. Seu sonho se fortificou ao ver um grupo de jovens camponeses compondo um singelo conjunto de vozes, que improvisava, nos mutirões, por ocasião da colheita do café, do arroz ou do algodão. “Impressionante, entre os trabalhadores jovens, existia afinação perfeita na melodia e muita harmonia, não só nas vozes, mas também no convívio alegre ente si”, recorda Ágio.
Depois de alguns anos, Padre Ágio foi passar uma temporada na residência das Irmãs de Santa Teresa e lá começou a concretizar seu projeto. Nesta mesma época ele se dedicou também à faculdade de filosofia e a procura incessante de um terreno, ali próximo, para realizar seu sonho de ensinar e orientar os jovens camponeses para música. De três alunos, considerados músicos natos, foi montado um conjunto musical chamado Villa-Lobos que contava com: violão, violoncelo, violino e sanfona conseguidos através de doações. E, Logo depois este trio se transformou em sexteto proporcionando a partir daí uma longa caminhada de cultivo na arte musical nesta comunidade rural.
Somente em 1967, Ágio ouve através de um anúncio pela rádio que existe uma casa no distrito do Belmonte que está à venda. “No mesmo dia, tomei o transporte coletivo em direção ao sítio Belmonte. Tratava-se de uma residência, cuja frente e laterais eram de alvenaria, solidamente construída, e o fundo e seus encarregados, porém, eram de taipa.” Não foi nesta ocasião que o Monsenhor comprou à casa, na época o pagamento seria à vista, impossibilitando a compra. Somente depois de alguns meses esta casa pode ser comprada. Naquele dia e, a partir dele, estava iniciando uma longa jornada com a comunidade do Belmonte ou como o padre mesmo diz: “Sua Missão”.
Hoje a escola conta com 200 alunos distribuidos em três turnos e com aulas teoricas e práticas da teoria musical. “Qualquer pessoa pode ser aluno da Sociedade Lírica do Belmonte - SOLIBEL, a única exigência é que este aluno esteja matriculado em escolas regulares. A prioridade é para a comunidade do Belmonte, mas temos alunos de toda parte da Região.” nos conta o maestro Felipe da Silva atual regente e diretor da escola.
Basicamente a SOLIBEL trabalha com teoria musical, mas houve tentativas de inserção de novos cursos para as crianças. Entre estes, mais recentemente aconteceu à oficina de teatro, entre outras intenções de montar uma escola de informática para inserir os jovens no mundo digital.
A verdadeira intenção da escola é despertar na criança e no jovem seus interesses pela cultura, trazendo-os para si sensações de pertença a um ambiente voltado à música e as artes de uma maneira geral. As sensibilidades despertadas neles pelas aulas da SOLIBEL revelam para o espaço poético e lírico, jovens talentos. É o caso do Carlos Rafael, um violinista de 12 anos, filho de pequenos agricultores do Crato que toca Bach, Mozart e Corelli, e também canções populares como "Mulher Rendeira" e "Luar do Sertão".
Em fevereiro deste ano houve a comemoração dos noventa anos do Monsenhor Ágio com o lançamento de um livro e um cd com as músicas do Padre David, irmão do Monsenhor que durante anos ajudou na orientação e na construção dessa escola. Oferecendo para os alunos aulas de música. Este cd é o primeiro trabalho registrado da orquestra e que teve duração de um ano, desde a idéia até o produto pronto. “Nesta festa reunimos os alunos e os ex-alunos, além de pessoas que de alguma forma contribuíram para SOLIBEL.” Comenta o maestro.
Apesar de seus 90 anos o Monsenhor Ágio ainda encontra forças para lecionar música aos seus alunos, além de publicar alguns livros sobre a história da SOLIBEL. A firmeza encontrada vem de uma disciplina árdua de caminhadas e refeições balanceadas. Mostrando que a força nunca seca e que a formação de multiplicadores é somente um passo de sua longa e iluminada jornada. Assim é o Padre Ágio nas palavras de Josely Timóteo: “Não é um ser opaco, acomodado às coisas fáceis da vida, mas alguém que luta porque acredita num mundo melhor, mais espiritual, mais humano, menos materialista e, principalmente, mais artístico”.

Olhares - Gente


Reunidos na ArtePlural, três fotógrafos que representam bem o Cariri. Seus enfoques ou enquadramentos estão nas pessoas.



“Gosto de fotografar gente. Não sei fotografar natureza, bicho, objetos. Meu lance é gente mesmo. Tanto gosto de produzir a cena para fotografar, como também gosto de chegar e ninguém me notar, para poder compor a foto. Na fotografia o dedo tem que ser tão rápido quando o olho. Em minha fotografia faltam pedaços, mas eles estão justificados dentro do retângulo. Eles têm uma organização, existe um corte estético. O meu enquadramento é bem agressivo e o que percebo é que faço os corte estéticos dentro de um equilíbrio. Neste tipo de foto que eu apresento, o espectador pode criar o restante da foto. Uma mente inteligente cria e não sente falta. Isso é o que a estética pode trazer”.
Allan Bastos



“Eu não consigo fotografar apenas com o olhar. Eu fotografo com todos os membros do meu corpo. O sentimento me leva a isso. Ainda adolescente, me encantei com as romarias, achava tudo aquilo muito louco, estranho e pensava em fotografar, mas nunca fotografava, apenas fazia fotografias de família. Gosto de fotografar o ser humano. Por isso, quando eu dei o meu primeiro “click” foi exatamente fotografando uma mulher. Fazendo a expressão de uma senhora. “As expressões das pessoas é o que me chama mais a atenção”.
Nívea Uchôa




“A fotografia veio à mim. Eu sou um fotógrafo plural, como é o propósito da revista. O que se apresenta de tema diante de mim,naquele momento, eu fotografo. Porque o fotógrafo deve ir em busca da imagem que se apresenta, seja uma paisagem, um contexto social, a fotografia documental, a fotografia jornalística ou uma fotografia reflexiva. Eu me desvinculei do parâmetro de ser fotógrafo de um tema só. As imagens, elas sim, se apresentam”.
Pachelly Jamacaru